Como amenizar o nervosismo em campeonatos?

Como amenizar o nervosismo em campeonatos?

Por mais que a imagem e o título deixem implícito que estamos falando de crianças, essas dicas também vão para os pais. O nervosismo em campeonatos é algo comum, e os pais tem papel fundamental, seja para amenizar ou agravar esse nervosismo.

O problema não é estar nervoso, é estar exageradamente nervoso. Estar nervoso em certas situações faz parte da natureza do ser humano, sendo uma reação benéfica, pois injeta adrenalina em nosso sistema circulatório, nos deixando mais alertas. Porém, estamos falando de crianças (e pais) que choram, desistem, pedem para ir embora e se recusam a continuar. Essas são as principais características de uma criança apresentando um clássico quadro de nervosismo exagerado. Considero três perfis como os mais comuns em campeonatos escolares:

Criança perdida: É aquela que está nervosa por não saber o que fazer. Acomente principalmente crianças que vão pela primeira vez em um campeonato. Elas não sabem como se portar, onde devem sentar, contra quem vão jogar, o que fazer quando o jogo terminar e nem onde seus pais vão estar esperando ao final da partida. O melhor remédio contra isso é informação e preparo prévio. Os pais têm papel fundamental para evitar esse tipo de reação. Para isso, aqui vão três dicas para evitar que seu filho se sinta perdido:

  • Planeje com antecedência. Procure saber todas as informações do torneio com antecedência, tais como ritmo de jogo, esquema de emparceiramento, regras adaptadas, premiação, local e horário das rodadas, etc.
  • Chegue cedo. Dê uma volta para conhecer o ambiente. Procure saber onde ficam os banheiros, a área de jogo, onde os emparceiramentos estão afixados, onde será a premiação, etc.
  • Combine um local de encontro. Diga para seu filho onde ficará sentado esperando ele após o final da partida. Procure um local onde você possa vê-lo, mas ele não possa lhe ver. Isso transmite segurança, mas também evita que a criança fique constantemente olhando para a família. E, obviamente, fique nesse local até a partida terminar.

Criança ansiosa: É aquela que demonstra nervosismo em campeonatos devido a ansiedade. Ela está falando desse campeonato a semanas, contando os dias e horas para começar. A ansiedade é tão grande que muitas delas ficam tão extasiadas que se desconcentram e perdem o jogo. Com isso, choram e se desesperam, pois se decepcionam com o próprio desempenho. É como se pensassem: “Esperei tanto por esse campeonato pra chegar e perder todas? Eu sou um fracasso!”. Após isso não querem mais participar, pedem para ir embora e evitam repetir essa experiência traumática. Novamente, deixo três dicas para que os pais possam amenizar essa ansiedade:

  • Objetivo: Diversão! Deixe claro que você o trouxe para se divertir. Se está sendo uma experiência traumática, estressante e cansativa, você vai levá-lo embora. Não cobre resultados (falarei disso adiante), mostre que está lá apenas para vê-lo se divertir.
  • Respire. A ansiedade é tão grande que até disso eles se esquecem. Antes de iniciar o jogo, peça que respire devagar, se acalme e fique tranquilo antes de ir jogar. Nervosismo só atrapalha.
  • Não deixe espaço para dúvidas. Deixe bem claro todas as informações que conseguiu na etapa anterior (Planeje com antecedência). Diga que horário começa, onde fica, quanto tempo leva pra chegar lá, quanto tempo de jogo, quais as regras do torneio, etc.

Criança pressionada: Esse perfil é o mais preocupante de todos e, infelizmente, é um dos comuns. Já ouviram falar daquelas histórias de crianças que foram forçadas a frequentar aulas de natação na infância e, quando adultos, evitam ao máximo entrar em uma piscina? Certa vez chegou em minha sala um garoto prodígio que, com apenas 4 anos, já ganhava de todos da turma. Alertei os pais sobre sua habilidade e ambos ficaram maravilhados. Levamos eles para vários campeonatos, sempre chegando com o troféu de campeão. Até que um dia, chegou um garoto que jogava tão bem quanto ele, ameaçando assim o seu “reinado”. Ao perceber isso, seu pai começou a cobrar mais dedicação nos treinamentos, dobrando o número de horas e intensificando as atividades. Alertei o pai, dizendo para ir devagar, não pressionar pela vitória e não tornar uma diversão em obrigação. Mesmo dizendo que entendia meu ponto de vista, fui ignorado. Na última etapa de um torneio, o garoto precisava apenas do 4º lugar para se sagrar campeão. Caso contrário, o outro garoto é quem levaria o troféu. Mesmo com essa vantagem, o garoto se recusou a participar da última etapa, alegando estar se sentindo mal (mesmo estando na porta do local do torneio). Isso mostra como as cobranças por resultados geram desconforto na criança, que ainda não tem maturidade psicológica para lidar com isso. Aqui ficam as três últimas dicas para evitar essa situação:

  • Cobrar empenho, não resultados. Não importa o que tentamos, devemos fazê-lo com total empenho. A criança se sente muito mais tranquila quando sua família cobra apenas seu empenho, pois isso ela pode controlar. A vitória envolve inúmeros outros fatores que estão fora do seu controle. O adversário pode ter tido um treinamento melhor, pode ser filho de um grande jogador, pode jogar a mais tempo que ele, pode ter treinado uma jogada da qual ele não conhece, etc. Resumindo: ela não sabe se vai ganhar, mas ela sabe que pode se esforçar ao máximo.
  • Por que você perdeu? Pode parecer que isso é uma cobrança. Porém, ela deve ser vista como início do detalhamento da partida, incentivando a criança a enumerar os pontos em que errou e melhorá-los nas próximas oportunidades. Ao ser questionada dessa forma, a criança pensa tem o impulso de responder: “não sei” ou “ele é melhor do que eu”. Após essa resposta, aprofunde o questionamento: “o que você fez ou deixou de fazer que causou a sua derrota?”. Agora sim ele começa a entender onde você quer chegar, e passa a descrever seus erros e forma detalhada: “eu movi a dama muito cedo” ou “errei ao usar aquela abertura”.
  • Já sabe porque perdeu? Agora é hora de treinar! Ao descobrir onde está errando, é hora de procurar acertar. Anote os erros para poder treinar em casa como corrigi-los. E incentive o treinamento. Mostre que os grandes jogadores, de qualquer esporte que seja, chegam a vitória devido ao trabalho duro e treinamento incessante. Como disse uma vez o grande golfista Tiger Woods “Quanto mais treino, mais sorte eu tenho”.